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Oportunidades e Riscos: Como o ChatGPT Pode Engajar (ou Desengajar) Seus Alunos

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Falar sobre o uso do ChatGPT na educação virou quase um sinônimo de inovação. Mas a ciência mostra que a história é mais complexa: o mesmo recurso que pode gerar alto engajamento também traz riscos de desengajamento se não for bem planejado. É o que revela o estudo How ChatGPT impacts student engagement from a systematic review and meta-analysis study (Heung & Chiu, 2025), ao analisar mais de 1.700 alunos em diferentes níveis e disciplinas.


Para designers instrucionais, professores e profissionais de T&D, compreender essas nuances é essencial. Afinal, o que queremos é potencializar os benefícios da IA sem comprometer o desenvolvimento cognitivo ou o envolvimento humano tão importantes no processo de aprendizagem.


As grandes oportunidades: mais participação, autonomia e interesse


De acordo com o estudo, o ChatGPT foi capaz de melhorar o engajamento comportamental, cognitivo e emocional dos estudantes em um efeito médio a alto. Na prática, isso significa que alunos passaram a participar mais ativamente das tarefas, investir mais esforço mental para resolver problemas e demonstrar maior interesse pelo conteúdo.


Por exemplo, em cursos de programação e ciências, o ChatGPT ajudou a destravar dificuldades pontuais, permitindo que o aluno seguisse em frente em vez de ficar paralisado diante de erros. Esse tipo de apoio instantâneo aumenta a confiança e incentiva o participante a manter o ritmo, o que é valioso tanto em contextos acadêmicos quanto em treinamentos corporativos sobre temas como finanças, tecnologia ou processos internos.


Além disso, o ChatGPT pode ser um motor para o aprendizado autodirigido, já que o aluno tem autonomia para questionar, pedir exemplos e testar hipóteses, desenvolvendo competências de autoavaliação e monitoramento do próprio progresso.


Os riscos: dependência e superficialidade no raciocínio


Por outro lado, o estudo chama atenção para riscos que merecem cuidado. Um deles é a superdependência. Quando o ChatGPT se torna o principal “resolver” das tarefas, o aluno pode reduzir seu esforço cognitivo, terceirizando o pensamento crítico para a ferramenta. Isso pode levar a um aprendizado mais superficial e a uma falsa sensação de domínio.


Em ambientes corporativos, isso é ainda mais delicado. Imagine um colaborador que passa a usar a IA para estruturar relatórios ou análises, mas não internaliza o raciocínio necessário para interpretar dados ou tomar decisões. Isso pode impactar diretamente a qualidade do trabalho e a capacidade de enfrentar cenários complexos sem o apoio da ferramenta.


Outro ponto é a redução das trocas humanas. O estudo destacou que, em alguns casos, alunos relataram menor interação com colegas e instrutores, o que pode afetar competências socioemocionais importantes para o mundo do trabalho, como comunicação e colaboração.


Como equilibrar? Estratégias para engajar sem abrir mão do aprendizado profundo


Para o design instrucional, o caminho está em estruturar a experiência de forma que o ChatGPT atue como um facilitador e não como substituto do esforço cognitivo e social. Isso significa desenhar atividades em que o aluno precise processar, comparar, argumentar e refletir, usando o ChatGPT como apoio, mas não como resposta final.


Um exemplo é construir trilhas que combinem o uso do chatbot para revisar conceitos com debates em grupo ou simulações presenciais, reforçando o lado humano da aprendizagem. Em programas de liderança, podemos usar o ChatGPT para treinar perguntas difíceis ou simular cenários, mas seguir para discussões presenciais ou mentorias, garantindo o desenvolvimento de competências relacionais.


Também vale definir momentos de “desconexão da IA”, nos quais o participante precisa aplicar o que aprendeu em tarefas individuais ou colaborativas sem o suporte do chatbot, consolidando a autonomia intelectual.


O papel do designer instrucional na mediação do uso da IA


O grande diferencial de um projeto bem desenhado é prever esses riscos e equilibrar o uso da IA. O designer instrucional precisa ter clareza de quando o ChatGPT é bem-vindo — por exemplo, para estimular perguntas e revisões rápidas — e quando é necessário garantir que o aluno reflita, critique e construa o conhecimento com esforço próprio.


Ao estruturar cursos, vale planejar rubricas ou checkpoints em que o aluno precise demonstrar raciocínio, apresentar argumentos ou mesmo explicar o caminho que seguiu para chegar a uma resposta, fortalecendo a profundidade do aprendizado.


Esse olhar crítico faz toda a diferença para que o ChatGPT funcione como um aliado do engajamento e não como um atalho perigoso que mina o verdadeiro desenvolvimento do aluno.Usar o ChatGPT de forma estratégica é o futuro da aprendizagem


A meta-análise mostra que o ChatGPT tem um enorme potencial para engajar — mas só se for bem mediado pelo design instrucional. Para quem quer construir experiências educativas que usem IA com equilíbrio, protegendo o pensamento crítico, a interação humana e o interesse genuíno pelo aprender, o primeiro passo é aprofundar o entendimento dessas ferramentas e das melhores práticas.



IDI Instituto de Desenho Instrucional


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