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O Que a Psicologia Cognitiva Ensina Sobre Como Aprendemos


Entender como as pessoas aprendem é essencial para qualquer profissional de treinamento e desenvolvimento. A psicologia cognitiva, área da psicologia que estuda os processos mentais envolvidos na aprendizagem, oferece insights valiosos sobre como o cérebro humano processa, armazena e recupera informações.


Quando aplicamos esses princípios no design de treinamentos, aumentamos significativamente a efetividade da aprendizagem, melhoramos a retenção do conhecimento e ampliamos a transferência para o contexto de trabalho.


Como o cérebro processa informações


O cérebro humano não funciona como um recipiente passivo que armazena informações, mas sim como um processador ativo. Ele interpreta, organiza, conecta e transforma dados em conhecimento. O modelo clássico utilizado para explicar esse funcionamento é o Modelo de Processamento da Informação, que se organiza em três etapas principais:


Memória Sensorial


É responsável por receber os estímulos do ambiente, como imagens, sons e sensações. As informações permanecem aqui por poucos segundos, sendo rapidamente descartadas se não forem capturadas pela atenção.


Memória de Trabalho


Também chamada de memória operacional, é onde ocorre o processamento consciente das informações. Ela possui capacidade limitada, geralmente de quatro a sete itens, e também é sensível ao tempo. É nesse estágio que ocorre a compreensão, a análise e o raciocínio.


Memória de Longo Prazo


É onde o conhecimento é armazenado de forma relativamente permanente. As informações são organizadas em esquemas mentais e redes de significado, permitindo a recuperação quando necessário.


Se o conteúdo não transita da memória de trabalho para a memória de longo prazo, ele simplesmente se perde. Por isso, compreender como facilitar esse processo é fundamental no design de experiências de aprendizagem.


Princípios da psicologia cognitiva aplicados ao design de treinamento


1. Gestão da carga cognitiva


A teoria da carga cognitiva, desenvolvida por John Sweller, parte do princípio de que a memória de trabalho tem uma capacidade extremamente limitada. Quando o volume de informações ou a complexidade da tarefa excede essa capacidade, ocorre sobrecarga, e o aprendizado é prejudicado.


Como aplicar:


  • Estruture os conteúdos em pequenos blocos, evitando a apresentação excessiva de informações simultaneamente.

  • Utilize recursos visuais como diagramas, infográficos e mapas mentais para auxiliar na organização do pensamento.

  • Elimine elementos que não agregam valor ao aprendizado, como textos desnecessários, gráficos decorativos ou exemplos irrelevantes.


2. Atenção como porta de entrada do aprendizado


Atenção é um recurso limitado e seletivo. Se o aprendiz não direciona atenção ao conteúdo, não há processamento nem retenção.


Como aplicar:


  • Utilize elementos que gerem curiosidade, como perguntas instigantes, dilemas ou situações-problema.

  • Varie os estímulos sensoriais e os formatos de apresentação, alternando entre textos, vídeos, dinâmicas e interações.

  • Evite ambientes ou interfaces poluídas que possam gerar dispersão.


3. Consolidação através da repetição espaçada e da prática ativa


O cérebro aprende mais eficazmente quando tem a oportunidade de revisar informações em diferentes momentos e quando é estimulado a recuperar ativamente esse conhecimento.


Como aplicar:


  • Planeje reforços distribuídos no tempo, utilizando trilhas de aprendizagem, lembretes ou atividades periódicas.

  • Estimule os participantes a aplicarem o conteúdo por meio de estudos de caso, desafios práticos, simulações ou discussões.

  • Utilize testes práticos não apenas para avaliação, mas como ferramenta de aprendizado. O simples ato de tentar lembrar fortalece a retenção.


4. Construção de significado a partir dos conhecimentos prévios


A aprendizagem não ocorre no vazio. Novas informações são processadas com base em esquemas já existentes na memória de longo prazo. Quanto mais conexões o cérebro consegue fazer, mais significativo e duradouro será o aprendizado.


Como aplicar:


  • Ative o conhecimento prévio dos participantes no início do treinamento, por meio de perguntas, reflexões ou dinâmicas de diagnóstico.

  • Relacione os conceitos trabalhados a situações reais e problemas do cotidiano profissional dos aprendizes.

  • Crie analogias, metáforas e exemplos que facilitem a integração do novo conhecimento àquilo que já é familiar.


5. Importância do feedback imediato e corretivo


O feedback é um elemento central no processo de aprendizagem. Ele permite que o cérebro ajuste suas respostas, corrija erros e consolide as informações corretas.


Como aplicar:


  • Ofereça feedback de forma imediata, sempre que possível, durante atividades, simulações ou exercícios.

  • Priorize feedbacks construtivos, que não apenas indiquem se a resposta está certa ou errada, mas expliquem o porquê.

  • Crie oportunidades constantes de autoavaliação e reflexão.


Como esses princípios transformam o treinamento


Quando os princípios da psicologia cognitiva são aplicados corretamente, o treinamento deixa de ser uma simples transmissão de informações e se torna um processo de transformação. Entre os principais benefícios, destacam-se:


  • Aumento da retenção do conhecimento.

  • Maior engajamento dos participantes.

  • Redução da sobrecarga cognitiva.

  • Melhoria na capacidade de aplicar o que foi aprendido no ambiente de trabalho.


Checklist cognitivo para o design de treinamentos


  • O conteúdo está organizado em blocos claros e objetivos?

  • Há elementos que capturam e mantêm a atenção dos participantes?

  • O treinamento oferece oportunidades de prática ativa e aplicação?

  • Existe reforço e revisão dos conteúdos distribuídos no tempo?

  • As informações estão conectadas aos conhecimentos prévios dos participantes?

  • O feedback é frequente, imediato e construtivo?


Conclusão


A psicologia cognitiva fornece uma base sólida e comprovada para quem deseja criar treinamentos realmente eficazes. Ao compreender como o cérebro humano aprende, deixamos de construir experiências que apenas informam e passamos a criar soluções de aprendizagem que, de fato, transformam comportamentos e geram resultados.


IDI Instituto de Desenho Instrucional


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