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A Taxonomia de Bloom Ainda é Relevante no Design Instrucional?

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Por décadas, a Taxonomia de Bloom foi um dos pilares para a criação de objetivos de aprendizagem. Termos como compreender, aplicar e analisar permeiam planejamentos, planos de aula e roteiros de cursos — e provavelmente você já os utilizou, consciente ou não.


Mas estamos em 2025. A aprendizagem corporativa é cada vez mais digital, personalizada e imersiva, marcada pelo uso de IA generativa, trilhas adaptativas e experiências interativas em AR/VR. Diante disso, vale perguntar:Será que a Taxonomia de Bloom continua sendo uma ferramenta estratégica para o designer instrucional moderno? Ou já deveria ser substituída por abordagens mais contemporâneas?


A resposta é: sim, ela ainda é relevante — desde que atualizada e adaptada para o cenário atual.


Neste artigo, revisitamos a origem da Taxonomia de Bloom, analisamos sua evolução, e mostramos como utilizá-la de forma prática e atualizada no design de experiências de aprendizagem digitais.


O que é a Taxonomia de Bloom?


Criada em 1956 pelo psicólogo educacional Benjamin Bloom e um grupo de pesquisadores, a taxonomia original organizava níveis de complexidade cognitiva, da mais simples à mais complexa, no processo de aprendizagem:


  1. Conhecimento – Lembrar fatos e conceitos básicos.

  2. Compreensão – Entender e interpretar informações.

  3. Aplicação – Usar o conhecimento em novas situações.

  4. Análise – Examinar partes para compreender a estrutura.

  5. Síntese – Combinar elementos para criar algo novo.

  6. Avaliação – Julgar o valor ou qualidade de ideias ou materiais.


Por décadas, ela foi amplamente usada em escolas, universidades e treinamentos para estruturar objetivos, avaliar desempenho e desenhar experiências de aprendizagem.


A Revisão de Anderson & Krathwohl (2001)


Em 2001, Lorin Anderson (ex-aluno de Bloom) e David Krathwohl revisaram o modelo, tornando-o mais dinâmico, ativo e conectado às práticas contemporâneas.


As principais mudanças foram:


  1. De substantivos para verbos – Destacando ações cognitivas (por exemplo, “Conhecimento” virou Lembrar e “Síntese” virou Criar).


  2. Reordenação – O nível “Criar” passou a estar acima de “Avaliar”, reconhecendo que a criação exige habilidades cognitivas mais complexas.


  3. Duas dimensões –


    • Dimensão do Conhecimento: factual, conceitual, procedimental e metacognitivo.

    • Dimensão dos Processos Cognitivos: Lembrar, Compreender, Aplicar, Analisar, Avaliar, Criar.


Essa estrutura possibilitou classificar não apenas o que o aluno deve saber, mas como ele deve pensar sobre esse conhecimento.


Por que ela ainda importa no eLearning?


A versão revisada conecta-se melhor ao cenário atual de aprendizagem digital, pois:


  • Facilita a escrita de objetivos claros usando verbos de ação.

  • Incentiva o pensamento de ordem superior em atividades práticas, projetos e simulações.

  • Suporta metodologias como ADDIE, SAM e Backward Design.

  • Ajuda a alinhar conteúdo, atividades e avaliações de forma coerente.


Em ambientes de T&D corporativo, ela serve como guia para transformar objetivos estratégicos em resultados de aprendizagem mensuráveis.


Adaptando Bloom à Aprendizagem Moderna


Para manter sua relevância, a Taxonomia de Bloom precisa ser usada como ferramenta flexível e adaptada ao perfil do aprendiz atual: conectado, visual, ágil e orientado à aplicação prática.


1. Contextualize com situações reais


Troque abstrações por exemplos aplicáveis ao cotidiano.


  • Em vez de “Analisar dados”, use “Analisar feedbacks de clientes para melhorar o atendimento”.


2. Utilize mídias e simulações


Integre vídeos interativos, cenários ramificados, gamificação e realidade aumentada para explorar níveis como Aplicar, Analisar e Criar.


3. Aplique no design ágil


Em modelos iterativos como Design Thinking ou SAM, use Bloom como referência de qualidade cognitiva, não como checklist rígido.


Escrevendo Objetivos SMART com Bloom


Objetivos claros direcionam o conteúdo, a interação e a avaliação.


  • Use a fórmula SMART (Específico, Mensurável, Alcançável, Relevante, Temporal).

  • Escolha verbos de ação coerentes com o nível cognitivo desejado.


Exemplos:


  • Lembrar → “Listar os componentes de um computador.”

  • Analisar → “Diferenciar dados qualitativos de quantitativos.”

  • Criar → “Desenvolver um plano de marketing para um novo produto.”


Garanta o alinhamento entre ensino e avaliação


Um erro comum é ensinar em um nível e avaliar em outro.


  • Se o objetivo é Aplicar, evite provas que apenas cobrem memorização.

  • Certifique-se de que atividades, quizzes e projetos exigem a mesma complexidade cognitiva prevista nos objetivos.


Microlearning: um nível por vez


No microlearning, menos é mais. Trabalhe um único nível de Bloom por módulo.


  • Ex.: Um vídeo para “Definir phishing” (Lembrar) e outro para “Identificar phishing em e-mails” (Aplicar).


Projetos e avaliações finais: níveis mais altos


Para consolidar o aprendizado, use Analisar, Avaliar e Criar em projetos integradores ou desafios finais:


  • Analisar um caso real e propor soluções.

  • Avaliar diferentes ferramentas e recomendar a melhor.

  • Criar uma proposta de melhoria de processo.


Misture modalidades para enriquecer a aprendizagem


Combine formatos para atingir diferentes níveis cognitivos:


  • Texto e infográficos para Lembrar e Compreender.

  • Vídeos e demonstrações para Aplicar.

  • Simulações e estudos de caso para Analisar e Avaliar.

  • Projetos práticos para Criar.


Conclusão


A Taxonomia de Bloom não é um relicário do passado, mas um mapa mental que, quando adaptado, orienta o design instrucional para resultados reais. Ela ajuda a manter clareza, intencionalidade e coerência, equilibrando criatividade e medição de resultados.

O segredo é não usá-la como fórmula engessada, mas como ferramenta viva, que acompanha as transformações tecnológicas, metodológicas e culturais da aprendizagem.


IDI Instituto de Desenho Instrucional


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