Por Michele Kasten - Fundadora do idi.com.br
Quero compartilhar com vocês uma inquietação que tem se tornado comum em todos os setores da nossa economia. A introdução da inteligência artificial no meio profissional e didático. O setor educacional já vê essa realidade a logo tempo, com a adequação do ensino em plataformas de experiência de aprendizagem, a adoção de metodologias personalizadas, acessíveis e automação do processo de avaliação didática.
Mas, deixando um pouco de lado essa estrutura inteligente de percursos personalizados, recursos acessíveis, histórico de navegação, indicação automatizada do melhor conteúdo, etc... lanço a você o desafio de fixar seu olhar mais especificamente ao profissional que está envolvido com a criação destes conteúdos, recursos e objetos de aprendizagem: falo do designer instrucional, engenheiro pedagógico, desenhista de educação ou professores. Como é que esses profissionais vão ficar com a adoçào cada vez mais automatizada dos processos criativos?
Para responder essa pergunta procurei o pesquisador Frederick van Amstel, professor associado da School of Art + Art History da Universidade da Flórida. Um profissional com habilidade única de trazer questionamentos muitas vezes desconfortáveis à quem espera a mesmice no nosso ramo ou medrosos o suficiente para não olhar de frente a nova realidade: a de que aumentará a precarização do trabalho na área educacional caso os designers não atendam às novas necessidades de uso e manejo da I.A na educação.
Em e-mail trocado com o professor cito abaixo a colocação ipsis líteris da sua explanação:
Michele:
"gostaria, se possível, uma ideia sobre para onde vai o design instrucional na era da IA. Com linguagens generativas a criação de conteúdos - o cerne - de qualquer movimento da internet...como ficarão os designers de instrução? Os designers educacionais (uma vez q a IA ja existe anos em termos de acessibilidade, personalização,análise e gerenciamento de dados, etc) serão substituídos pela maquina?
Professor Frederick:
"Olá Michele!
Eu acho que todos os ramos de design serão afetados direta ou indiretamente pela IA, uma vez que é uma questão de competitividade. Mesmo que um designer não use, outro vai usar. E v˜ao muitas organizações que usarão sem nem ter designers. Isso vai aumentar a pressão sobre os designers como um todo. O que antes se esperava que fosse feito em 1 semana agora será esperado que seja feito em 1 dia. O impacto inicial será a precarização. Porém, os designers podem reagir a isso de maneira a projetar suas próprias IAs, aí tem alguma chance de libertação.
Eu abordo isso melhor nessa outra aula:
Em seu blog:
... Enquanto alguns temem que a inteligência artificial torne os artistas obsoletos, mais interessante é pensá-la como uma ferramenta para expandir o potencial criativo. Ao explorar os pontos em comum entre a criação surrealista e a geração de imagens por IA, percebemos que ambos exploram os reinos do consciente e inconsciente, conectando-se com emoções e reflexões compartilhadas. No entanto, é crucial que os seres humanos mantenham um papel ativo e consciente na criação e direção da inteligência artificial, evitando sua substituição completa. O desafio está em priorizar a metacriatividade sobre a automação. Veja mais aqui: https://www.usabilidoido.com.br/jogos_surrealistas_e_inteligencia_artificial.html
O que você acha sobre esse tema? Você, enquanto designer instrucional, está pronto para reagir a essa nova demanda e se tornar menos processual e mais criativo neste processo? Afinal estamos caminhando para o metadesign onde competências como criatividade, subjetividade e real preocupação com um ensino mais diverso e menos oneroso aos alunos realmente tomam espaço? Porque ensinar matemática no manual se podemos, de forma criativa, oferecer recursos que promovem o raciocinio lógico de forma mais metadiversa? Afinal, como no exemplo da matemática, aprender por exemplos torna o raciocinio mais afiado do que simplesmente aprender pelo manuseio de números.
Pois bem senhores DI's. A ordem do dia é: busquem se desenvolver, na sua criatividade, uma competência sempre tão querida e pouco utilizada nos meios processuais lineares do design de instrução até então. Deixemos a instrução para a máquina (I.A) e voltemo-nos para o design da experiência cujos processos advém dessa capacidade inata do ser humano de criar, cognitivar.
Sobre os Cadernos da Fucamp, v.25, p.119-134/2024:
" Naturalmente, precisamos nos preparar para nos deixar surpreender. Estamos no curso de descobertas digitais muito promissoras, muito potentes e que vão mudar nossas vidas muito além do que supomos. A redução da vida à mera matéria é um dos postulados mais ingênuos do mundo digital, que leva a “antropomorfizar” a máquina, a ponto de ela substituir humanos. Enquanto humanos não são referência final de nada – pois são uma espécie viva entre outras e pode desaparecer, como toda espécie no planeta – a máquina tem suas propriedades lineares, nas quais já supera os humanos de longe, sem volta, mas não tem propriedades vivas. Assim como a mente, que depende dos neurônios para existir, não é material, não é caso reduzir a vida à sua base material, nem desprezar a esta. A máquina está fazendo coisas muito instigantes e estupefacientes, como a assim dita IA, mas não é, nem de longe, “inteligente” como são os humanos, simplesmente porque ela tem “outra inteligência”, facilmente complementar, além de muito mais efetiva nas linearidades. O abuso de metáforas humanas é marketing ordinário."
Fonte: Renan Antônio da Silva
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